A família de Gabriel Pereira, de 21 anos, denuncia que o jovem foi vítima de um esquema internacional de recrutamento para a guerra na Ucrânia. Morador de Belo Horizonte, Gabriel havia servido o Exército Brasileiro e sonhava com carreira militar. Trabalhando como cobrador de ônibus, pagou cerca de R$ 3 mil na passagem para a Europa.
Ele embarcou no dia 6 de março para Varsóvia, na Polônia, e seguiu até Kiev, capital ucraniana. A promessa era de salário de até US$ 6 mil, seguro de vida e repatriação do corpo — nada foi cumprido, segundo a família.
Gabriel dizia que iria para a Legião Estrangeira Francesa, mas foi parar na guerra na Ucrânia. O contrato, segundo o irmão João Victor, foi assinado com o governo ucraniano, não com empresa privada.
A última mensagem do jovem foi no dia 3 de julho, quando informou que ficaria incomunicável. Estava em Izium, perto da fronteira com a Rússia, com o braço quebrado. Mesmo ferido, foi enviado ao front. Segundo relatos de colegas, morreu em uma trincheira com outro brasileiro.
A família não recebeu qualquer notificação oficial. A informação sobre a morte veio de um companheiro de missão. O Itamaraty e autoridades ucranianas ainda não responderam aos pedidos da família. João Victor afirma que corpos de estrangeiros são abandonados para evitar despesas com traslado e identificação.
A mãe de Gabriel está em estado de choque. A família recebe apoio psicológico com ajuda de parentes.
Outro brasileiro, Lucas Felype Vieira, de 20 anos, também relata ter sido enganado. Ele foi para a Ucrânia em maio, atraído por vídeos que prometiam atuar com tecnologia militar, mas acabou em batalhão de infantaria, sem treinamento.
A Legião Internacional, criada pela Ucrânia em 2022, confirma a presença de voluntários de mais de 75 países, mas alerta para golpes em redes sociais usando seu nome indevidamente.
Segundo João, ao menos 15 brasileiros relatam situações semelhantes. “Eles lutam, morrem e são esquecidos”, afirma.