O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que considera improvável a reversão da inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A declaração foi feita ao jornalista Jon Lee Anderson, que publicou um perfil sobre o magistrado na revista New Yorker nesta segunda-feira (7/4).
Embora raramente conceda entrevistas, Moraes aceitou conversar com Anderson em algumas ocasiões. Em uma dessas conversas, em março, logo após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar Bolsonaro e outras 33 pessoas por uma suposta tentativa de golpe, o jornalista questionou se o ex-presidente ainda teria chances de voltar ao cargo.
“Existe a possibilidade de Bolsonaro ser inocentado no processo criminal, já que o julgamento está em fase inicial. No entanto, ele já foi condenado duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por inelegibilidade. Esses casos foram objeto de recurso e agora tramitam no STF. Apenas o Supremo poderia reverter as decisões, e não vejo qualquer chance de isso ocorrer”, explicou o ministro.
Moraes também rechaçou a ideia de que Bolsonaro esteja sendo alvo de um julgamento parcial. Segundo ele, os acusados terão o direito de apresentar suas defesas no STF. “A tese de perseguição política e de inimizade pessoal perdeu força, especialmente porque não foi só a Polícia Federal que apresentou acusações — o próprio procurador-geral da República decidiu formalizar a denúncia”, pontuou.
Redes sociais e plataformas digitais
O ministro também abordou a atuação das grandes empresas de tecnologia e das plataformas de redes sociais. Ele lembrou que os debates sobre os limites da internet não são recentes e vêm sendo discutidos há mais de uma década. Moraes chegou a mencionar que o X (antigo Twitter) teria sido uma ferramenta extremamente perigosa se existisse durante a Segunda Guerra Mundial e o regime nazista.
“A extrema direita entendeu, na época da Primavera Árabe, que era possível mobilizar massas pelas redes sociais, sem depender de intermediários. Os algoritmos, inicialmente criados para fins comerciais, passaram a ser usados com objetivos políticos. Se Goebbels tivesse acesso ao X, estaríamos em sérios apuros. Com essa ferramenta, os nazistas poderiam ter conquistado o mundo”, afirmou.
Trump e pressões internacionais
Ao comentar as tentativas de aliados de Bolsonaro de influenciar autoridades internacionais, especialmente o ex-presidente norte-americano Donald Trump, Moraes disse não se sentir pressionado. Para ele, o movimento liderado por Trump acabará incentivando outros governos a adotar medidas regulatórias mais rígidas sobre as redes sociais, antes que os danos sejam irreversíveis.
Segundo o ministro, a Europa já se mobiliza nesse sentido, lembrando que em agosto as autoridades da França chegaram a prender o fundador do Telegram. Moraes também recordou a suspensão da plataforma no Brasil, além do bloqueio recente do Rumble. “Vão começar a dizer que estou perseguindo todo mundo. Daqui a pouco, vão me acusar de estar perseguindo até o Trump”, ironizou.
Por fim, ele brincou com a ideia de interferência americana: “Eles podem entrar com processos, pedir que Trump diga algo. Agora, se quiserem mesmo me influenciar, terão que mandar um porta-aviões para o Lago Paranoá. Se isso não acontecer, não haverá impacto algum nas decisões que tomamos aqui no Brasil”, concluiu.