30/04/2024

Notícia/Colunista

Por Dr. Tássio Alvarenga Lopes: A velha geladeira Brastemp branca de mamãe!

Foto: Dr. Tassio Alvarenga Lopes

Se tem uma coisa da qual eu não me esqueço é a primeira geladeira que minha mãe comprou quando eu tinha 6 anos de idade, lá no saudoso ano de 1989. Nesta época, minha mãe trabalhava como professora primária na Escola Estadual Professor José Monteiro e íamos a pé de nossa casa, próxima ao Campo do Sparta, até à referida escola. Lembro-me que num belo dia minha mãe estava radiante de alegria, pois teria comprado uma geladeira Brastemp branca semi-usada e iria recebê-la em sua casa à tarde. Porém, neste período estávamos na escola e só iríamos voltar ao nosso lar por volta das 16:30h. Quando o sinal da escola tocou saímos felizes ansiosos por ver o novo eletrodoméstico. Quando chegamos em casa me lembro de olhar pelo buraco da fechadura e lá estava a geladeira Brastemp branca. Nunca me esqueci desta imagem mesmo já tendo passado mais de 30 anos. E por que não me esqueço de tal lembrança? Porque havia um intenso sentimento de felicidade associado ao fato ocorrido. Em 1989 eu estava no pré primário e tudo era novo e desconhecido para mim, mas não me lembro de outros acontecimentos tão perfeitamente como a imagem desta geladeira.

Hoje já se sabe o motivo pelo qual lembranças carregadas de sentimentos são mais facilmente memorizadas. Existe uma região em nosso cérebro chamado hipocampo de suma importância na captação e assimilação de informações e também responsável pela evocação de lembranças remotas e recentes. O hipocampo tem profundas conexões com o sistema límbico, esta outra região cerebral relacionada ao afeto e sentimentos. Hipocampo e sistema límbico trabalhando juntos possibilitam a memorização de imagens e acontecimentos entremeados por emoções. Isto é bom, pois momentos prazerosos em nossa vida serão lembrados com intensidade por muitos anos. Por outro lado, estresses e traumas associados a sentimento de tristeza também serão guardados com um realce nada agradável.

Sabendo disto podemos melhorar nossa memória desde que tentemos associar sentimentos às nossas atitudes. Exemplificando, podemos melhorar nossos estudos escolares se adicionarmos formas lúdicas e prazerosas de assimilação do conhecimento. Quantas vezes lemos livros e matérias da qual não gostamos e depois temos dificuldade de lembrarmos o conteúdo aprendido. Por outro lado, quando nos envolvemos sentimentalmente ao que estamos fazendo, as lembranças perdurarão mais em nossas mentes.

Falando em memória e o impacto dos sentimentos sobre a mesma, aproveito este momento para tecer comentários gerais sobre fatores que diminuem nossa capacidade de lembrar fatos passados. Recebo muitos paciente ansiosos com queixas de "cabeça ruim" ou "cabeça fraca". Talvez, esta seja uma das causas mais comuns de esquecimento no dia a dia. O paciente ansioso, por estar preocupado com vários assuntos ao mesmo tempo, executa ações no automatismo sem prestar atenção no que está fazendo. Em muitas ocasiões coloca bolsas, chaves e documentos em locais onde não se lembra e, depois para encontrá-los, é uma grande peleja. Isto ocorre por desatenção em virtude de uma mente cheia de pensamentos. Tratar a ansiedade recupera a atenção e a memória imediata.

Assinalemos também que muitos pacientes por deficiência de vitamina B12 e ácido fólico podem apresentar hipomnésia (redução da memória), a ponto de alguns idosos receberem diagnóstico de demência de alzheimer inapropriadamente. Hipotireoidismo mal tratado é outra doença relacionada a esquecimentos. Quando seu médico lhe prescrever remédios para tireoide, tais como, Puran, Synthroid ou Levoid, não deixe de tomá-los. Outras doenças que afetam a memória e que podem ser citadas abrangem tumores cerebrais, patologias das paratireoides, anemia, insuficiência renal, diabetes, hipertensão e aids. Diagnosticar e tratar destas doenças é manter uma mente sã.

Em resumo, boas lembranças serão aquelas recheadas de  sentimentos agradáveis e processadas por um cérebro saudável e em perfeita saúde mental!

autor

POR: DR. TASSIO ALVARENGA LOPES

PSIQUIATRA COM FORMAÇÃO EM MEDICINA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA E RESIDÊNCIA MÉDICA EM PSIQUIATRIA PELO CENTRO HOSPITALAR PSIQUIÁTRICO DE BARBACENA DA FUNDAÇÃO HOSPITALAR DE MINAS GERAIS.

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